A memória é também constituída por pessoas e personagens, estes que trabalharam e ainda trabalham na Faculdade de Medicina, e possuem importantes relatos que poderão preencher lacunas em uma iniciativa de construção e compreensão da temporalidade de fatos importantes para a FM.

Durante muito tempo, a tradição oral constituiu o principal conteúdo da memória coletiva, definida por valores e histórias passadas por gerações em um ciclo contínuo. É sob a perspectiva da história oral que foram pensadas as atividades para relembrar parte do histórico da FM nos 60 anos de Brasília, de modo a contribuir para a valorização da memória institucional por meio do resgate histórico que se propõe.

Iniciativas como essa fortalecem o diálogo entre diferentes gerações e possibilitam que (re) encontremos pessoas e personagens que são parte da história de cada um e de todos. Importante ressaltar que este é um trabalho contínuo, portanto, as entrevistas já realizadas são parte de um trabalho a ser retomado em momento futuro.

Depoimentos | FM nos 60 anos de Brasília

Entrevistas realizadas no contexto do projeto "Faculdade de Medicina nos 60 anos de Brasília", parte integrante do Programa Especial UnB nos 60 anos de Brasília do Decanato de Extensão da UnB (DEX/UnB). O material será parte importante da documentação da história desta Faculdade e contribui para o que chamamos de fortalecimento da identidade institucional. A história oral será utilizada como recurso primordial para que compreendamos e façamos o levantamento de dados para compor e estruturar alguns aspectos da história da Faculdade de Medicina. Os depoimentos são uma fonte importante para a compreensão do passado, mesmo que saibamos que não são índices absolutos da verdade.

O material ficará em posse do Repositório de História Oral do Núcleo de Memória da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (NMFM/UnB), com sede no campus Universitário Darcy Ribeiro, Brasília, para a realização e divulgação de projetos institucionais desenvolvidos relacionados à história e à memória da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (FM/UnB).

Jussara Rocha Ferreira

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Nasceu em 1950, em zona rural, no estado de MG que hoje corresponde ao município de Tupaciguara. Vive em Brasília desde 2005, quando passou a trabalhar na UnB como professora de Anatomia Humana na Área de Morfologia.

M.S.S. – Onde vive hoje e o que motivou a mudança da sua cidade natal para Brasília?

J.R.F. – Vivo em Brasília desde 2005 e na verdade, eu recebi um telefonema da Universidade de Brasília em meados de 2005. Fui chamada para uma reunião porque

havia interesse em me propor uma tarefa. Eu estive na faculdade conversando com o diretor, que era o professor Paulo Gonçalves, sobre uma possível tarefa de organização do acervo em função do Ministério Público do Distrito Federal estar regulamentando a lei 8.501.

M.S.S. – Quais foram os professores mais marcantes no convívio do seu dia-a-dia? E quais os funcionários da Faculdade de Medicina deixaram lembranças?

J.R.F. – O Abel, Mauro, Paulo, Fábio, Ana Lúcia, Yolanda, Natalino, Armando, entre outros. O Paulo tinha uma alegria ao ver os colegas chegaram, eu tenho tanta pena dele ter ido embora em uma situação de doença e não ter voltado, pois ele era uma pessoa que acreditava no que ele fazia, não descansava, no momento ninguém se negou a ser solidário com os outros. Natalino aposentou.

M.S.S. – Quais as características mais marcantes da Faculdade de Medicina? Manteve contato e amizade entre os colegas?

J.R.F. – A Universidade fez seu papel, ninguém deu as coleções, quem deu valor às coleções foram as professoras, pessoas ali presentes, tentando e tentando fazer algo melhor, cada objeto é um objeto de análise. As pessoas precisam entender que os espaços de divulgação científica são muito importantes. Teve uma vez que o Abel e eu levamos cadáveres para a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, ficamos dissecando os cadáveres, e um dia uma criança de 3 anos, mandou o pai embora e ficou lá vendo, achando lindo como o ser humano era por dentro. O Abel estava fazendo um braço, mostrando para ela como era. Aquela criança achou lindo, a criança não tem nenhum preconceito, que mal poderia causar? Nenhum, Marianna, pois o olhar do conhecimento não é um olhar preconceituoso, ele é um olhar aberto, é poético, a arte disso, a arte de fazer aquilo, tudo quando você vai pegar um objeto e ele transmite horas de conhecimento, você tem um olhar da arte de conhecimento.

M.S.S. – Lembra-se de algum acontecimento marcante na Faculdade de Medicina relacionado com fatos históricos, políticos e econômicos da cidade, do estado ou do país?

J.R.F. – A Universidade fez o papel, cumpriu o papel social, eu acredito que a procura pelo museu vem de uma procura da sociedade, então a melhor coisa que podemos fazer com a criatura humana é doar-se desinteressadamente. Penso que a Faculdade de Medicina, que hoje detém essa coleção, ela tem isso registrado na história dela, um bem cultural que vem atendendo gerações e gerações de crianças e de jovens na história dela.

Eu penso que nós, criaturas que convivemos com isso, vocês todos que estão hoje, vão continuar. Tem que ter o ânimo do que aconteceu no passado, com a certeza de que o futuro será melhor, com certeza será melhor, a invenção primeira de uma atitude humana se ela for boa, isso perdura por muito mais tempo do que aquilo que você faz por obrigação. No caso do museu, acho que isso não aconteceu, isso foi acontecendo pela demanda da sociedade.

Isso deu importância à Faculdade de Medicina, deu importância à Universidade, tanto deu importância à universidade pública brasileira de ter feito sempre em uma instabilidade política e institucional.

M.S.S. – Qual o significado de ter trabalhado na Faculdade de Medicina da UnB?

J.R.F. – Sempre considerei que todo trabalho constitucional é importante, temos que ter a honra de trabalhar sem pensar em competição, sempre trabalhei muito.

As oportunidades sempre foram muito boas, quando fui para a Universidade de Brasília já tinha maturidade acadêmica, não costumo achar difícil, porque se hoje não deu certo, amanhã daremos continuidade com uma solução. Eu fiz mais do que imaginávamos, nunca fui eu mesma, logo acho que o ponto de vista de carreira foi fazer o trabalho além daquilo que imaginei, durante o tempo que estive ali nesse trabalho, até 2014.

Trabalhar com divulgação científica foi algo que a instituição me mostrou. As pessoas que trabalham conosco seriam diferentes, com menos orgulho, aprendem mais, com uma linear de frustações maior, acreditam mais em si, é muito gratificante fazer isso. Tem aqueles dias que nos aborrecemos, mais e daí? No dia seguinte continua.

Trabalhar na universidade, especificamente com esse acervo todo, me possibilitou fechar um ciclo da minha vida porque sempre acreditei que a gente tinha que cumprir a lei 8.501. Oportunidade de fechar um ciclo que começou na década de 70 e finalizou em 2014, então fechei um ciclo de experiências durante esse tempo na FM.

Falo que se você achar difícil nunca faz dar certo, o conjunto de pessoas foi extremamente positivo para dar certo. Outro ponto importante foi a contratação para nossa área de dois técnicos de nível superior, um museólogo e um biólogo. Importante, pois as coisas não fluem se não tiver pessoas formadas para aquela determinada área. Quando você desanima de fazer uma atividade, deixa de mostrar os caminhos possíveis para todos aqueles que compartilham com você.

M.S.S. – Quais são as suas melhores lembranças na Faculdade de Medicina?

J.R.F. – Em uma da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia eu levei um livro muito bonito que tenho, e foi colocado em cima de uma mesa. O que poderia acontecer? Seria sujar, molhar, rasgar, mas eu o coloquei lá. Então veio uma senhora bem humilde e ficava olhando aquele livro, foi embora. No dia seguinte retornou e continuou a olhar aquele livro no horário de almoço, no terceiro dia achei estranho ela estar ali mais uma vez, focada somente naquele livro, foi quando conversei com ela e descobri que ela era de uma empresa terceirizada da limpeza. Durante a conversa comecei a folhear o livro perguntando se ela queria tocar, mexer, foi quando ela me perguntou “eu posso mexer? Posso tocar nesse livro?” Dai falei, claro que pode! Quando essa senhora tocou no livro percebi que ela estava emocionada. Então Marianna, se eu nunca causei benefício para ninguém para essa senhora eu causei, ela falou assim: este livro foi a coisa mais importante que eu vi na minha vida!

Então só isso basta em uma divulgação de atividade cientifica, se você mostrar o corpo, ele é lindo, então uma lembrança boa, isso que temos que ter em nossas vidas, em ter

apenas uma oportunidade na vida da gente, já valeu a pena. Então estar na UnB só por esse aspecto já valeu a pena para mim. Estar à frente desse trabalho, ter tido alegria de compartilhar com todas as pessoas as coisas boas, e nunca ninguém ter deixado de colaborar comigo. Vale a pena as pessoas sentirem e entenderem o significado do que está acontecendo, todos colaboraram sempre.

M.S.S. – O que você acha que mudou na Faculdade de Medicina do período em que trabalhou aos dias atuais?

J.R.F. – O respeito que as pessoas passaram a ter pela Área de Morfologia, por suas atividades de divulgação do conhecimento, isso mudou. Uma coisa era entender outra coisa é respeitar. As pessoas começaram a perceber a abrangência, porque na Faculdade de Medicina você acaba discutindo muita dor, discutindo os problemas lá fora, mas as pessoas também param para perceber que aquilo que temos é importante. Isso mudou.

M.S.S. - É importante ter um museu na Faculdade de Medicina?

J.R.F. – Sim, um bem cultural que vem atendendo gerações de crianças jovens, mostrando algo histórico. Mostrando os conhecimentos ali vividos, podendo fazer o melhor a cada dia, podendo dar importância ao conhecimento cientifico. Os professores de escolas encontraram ali uma oportunidade de conhecimento, e foram insistindo em procurar parceria com a Universidade, e dessa atitude resultou um processo de divulgação científica.

M.S.S. - Sobre a experiência na Faculdade de Medicina, o que mais gostaria de deixar registrado nesta data?

J.R.F. – Eu queria talvez dizer que o que a gente deseja é que o bom trabalho que a gente tem a muitas mãos possa ter continuidade e ser útil, tendo a certeza que ele jamais ficará preso ao ponto primordial, mas que ele se projetará no tempo, com a dimensão que tiver de ter.

Foi até pensando nisso que em 2014 pensamos já em fazer uma exposição de um museu virtual, porque nós já compreendíamos olhando as outras coleções do mundo que estes objetos do museu precisam ganhar o lugar deles no mundo. O que eu teria vontade com relação à isso, não sendo especificamente a coleção só do museu, mas o museu como um mediador, como uma politica de divulgação dos saberes sobre o corpo para as gerações futuras. Acho que isso vai acontecer, tenho muita esperança.

E que todos nós que fizemos parte, possamos no anonimato ter contribuído sem nenhuma preocupação com política competitiva, como as pessoas tem tido, porque isso não é mais um modelo. O mundo de agora é um mundo de colaboração, acho que isso irá acontecer de uma outra forma, onde iremos aprender o “nós” fizemos, nós construímos - não interessa a quem. É bom a gente lembrar que tudo aquilo que a gente acha construído, que foi feito, para um ato intencional ou intuitivo, tenha servido em algum momento ou em alguma oportunidade.

Podendo acrescentar algo a isso será bom para mim, quero acreditar nisso, em um amadurecimento, onde já existe uma politica institucional, sendo importante. Esse fazer é muito interdisciplinar e talvez esse tipo de ação mostre para nós que juntos somos fortes. O museu mostra isso, a divulgação cientifica mostra isso, nós somos fortes porque estamos juntos! Onde somamos as nossas forças acreditando que o amanhã será um dia melhor. Agradeço muito a oportunidade de vida que tive, o tanto que a universidade valorizou isso, da minha parte eu posso dizer que não vi de um ponto de vista institucional ninguém me puxando para trás, as pessoas sempre tinham aquele olhar de crescimento, isso foi muito bom para todos nós.

Maria da Glória da Silva

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Maria da Glória nasceu em Recife, Pernambuco, no ano de 1956. Está em Brasília há mais de 40 anos e é técnica no Laboratório de Histologia da Área de Morfologia da Faculdade de Medicina da UnB desde junho de 1976.

M.S.S - Você pode contar um pouco como era o seu local de trabalho assim que você chegou na Faculdade de Medicina?

M.G.S. – Olha, era um local muito gratificante, muito entusiasta, muito gostoso de trabalhar. Eu adorava porque tinha muita novidade, aquelas vidrarias, aqueles experimentos chegando, montando aquelas aulas práticas para os alunos. Nessa época nós estávamos lá no Minhocão e eu trabalhava no corredor do IB. Era uma coisa inovadora, uma coisa muito gostosa, nós éramos muito unidos, tinha uma participação intensa dos técnicos, eu quero aqui ressaltar o nome do Raimundo Alves, que era técnico da Neurobiologia lá no IB e que dava assim uma parceria, dava uma contribuição muito grande para o laboratório de Histologia na época, com os preparos das lâminas histológicas e de sistema nervoso, ele ia lá para nos orientar. A gente tinha uma grande parceria, era um ambiente muito gostoso, muito saudável.

M.S.S.  – E hoje você é referência para os técnicos que chegam, não é, Glorinha?

M.G.S. – É muito gratificante a gente saber que está deixando uma coisa marcante, um aprendizado, um aprendizado mesmo, para todos, porque eu sempre tive uma preocupação de o laboratório fechar, porque os mais velhos iam saindo, indo embora, então eu falava assim, meu Deus do céu, mas graças à professora Lúcia Teixeira, que foi uma pessoa que apostou muito no meu potencial, acreditou muito em mim, investia em minhas idas para congressos internacionais e nacionais de tecnologia, me botava para fazer cursos de capacitação, permitindo minha movimentação para alguns laboratórios, para outros setores da universidade, interagir com outros professores, com outros alunos, com outros técnicos, então isso me ajudou muito mesmo, e por essa razão eu tenho este amor incrível pela Histologia, essa paixão pela Histologia e em querer deixar discípulos, deixar pessoas preparadas para continuar, para não fechar o laboratório, que isso é uma preocupação muito grande, porque existem laboratórios de técnicas histológicas, de alguns setores da própria Universidade que estão praticamente fechados, porque não tem pessoas engajadas, pessoas apaixonadas pela profissão, pela parte técnica.

M.S.S.  – E para você, qual é a característica mais marcante da Faculdade de Medicina?

M.G.S. –  A característica mais marcante é esse potencial que ela tem de receber o novo, de receber o que é inovador, o que é mais interessante para a socialização dos alunos, dos próprios técnicos também.

M.S.S.  – Glorinha, qual o significado de ter trabalhado na Faculdade de Medicina da UnB?

M.G.S. –  O significado é vida, renovação, força, fé e foco, acima de tudo foco. É restauração, parece uma coisa muito linda na minha vida, que eu cheguei muito novinha aí, 19 para 20 anos, então a minha história de vida na UnB foi a Faculdade de Medicina. Foi onde eu vivi meus melhores momentos, meus melhores tempos, tive minhas filhas, e no qual eu sou muito grata à UnB por ter me ajudado a criá-las, eu fui mãe solteira, com muito orgulho, tive apoio de muitos professores, ajuda de muitos da Morfologia, muitos me ajudaram na educação, na criação, e tiveram uma participação muito íntegra na minha vida, no meu contexto geral.

M.S.S. – E quais são as suas melhores lembranças na Faculdade de Medicina?

M.G.S. – Minhas melhores lembranças… A primeira delas foi quando eu entrei. A segunda, o meu mestrado, que foi muito gratificante para mim. Eu sempre olhava e via os alunos, ia lá, assistia a apresentação, assistia aqueles resultados, coisa que eu tinha participado, e me sentia distante, achava impossível que um dia eu conseguir concretizar este sonho. Aí, quando pensei que não, a curto prazo, a passadas leves, o conhecimento gradativo, eu consegui chegar lá, então para mim foi um dos momentos mais lindos. E o nascimento das minhas filhas.

M.S.S.  – E o que você acha que mudou na Faculdade de Medicina, do período em que começou a trabalhar até os dias atuais?

M.G.S. – Mudou tudo, está tudo mais inovado, tudo mais novo, mais interativo, o conhecimento está sendo mais fácil. Então assim, esta mudança só veio a trazer benefícios para a instituição, para a faculdade como um todo, os intercâmbios…

M.S.S.  – Qual a importância, para você, de termos um museu e iniciativas voltadas à memória da Faculdade de Medicina?

M.G.S. –  Eu vejo como uma coisa muito positiva, uma coisa grandiosa, de se manter, não deve acabar, muito pelo contrário, deve ser melhorada a cada dia que passa, para a divulgação na comunidade, divulgação no mundo. Acho que o mundo deve conhecer o que temos de melhor.

M.S.S. – Sobre a sua experiência na Faculdade de Medicina, o que mais gostaria de deixar registrado na data de hoje?

M.G.S. –  Na data de hoje, o que eu gostaria de deixar registrado é que continuemos melhores ou iguais ao que estamos no momento.

Pedro Luiz Tauil

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Nasceu em São Paulo, em 11 de abril de 1941. Em 1985 passou a dar aulas na UnB. Hoje é professor voluntário vinculado no Programa de Pós Graduação em Medicina Tropical.

M.S.S.  – Quando você começou a trabalhar na Faculdade de Medicina? E quando terminou suas atividades?

P.L.T.– Bem, tem uma pequena história antes: eu me formei na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo em 1965, fiz residência médica lá em 66 e 67, e em 1968 eu e mais três companheiros médicos, uma enfermeira e uma assistente social formamos um grupo e fomos trabalhar em uma unidade mista do governo de Goiás em Porto Nacional, que na época era Tocantins, mas hoje é Goiás. Fomos trabalhar em uma unidade mista do governo de Goiás para exercer uma atividade de medicina integrada, nós tínhamos um cirurgião, dois clínicos, um pediatra, a assistente social e a enfermeira. E aí nós passamos um tempo, eu por pelo menos passei mais 7 anos em Porto Nacional. Nesse período o nosso trabalho foi muito conhecido, muito acreditado, então nós recebemos a visita de professores da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Goiás, entre eles o professor Joffrey Marcondes de Rezende e o Doutor Luiz Rassi, que era o diretor da faculdade, o professor Joffrey era o vice diretor. Nós recebemos os internos no seu estágio de medicina rural durante 30 dias na unidade de Porto Nacional, e por causa disso eu teria que fazer um concurso para auxiliar de ensino de clínica médica da Universidade Federal de Goiás, e com isso eu ficaria de preceptor desses estudantes, isso foi uma decisão conjunta com todos os outros profissionais com quem a gente trabalhava lá em Porto Nacional. Então eu passei a ser professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás, eu fiquei lá até 1975 e de lá é que eu vim para Brasília, porque eu recebi um convite do Ministério da Saúde para ser Diretor de Saúde da Coordenadoria de Saúde da Amazônia, e depois eu fui chamado para ser Diretor Geral do Departamento de Doenças Endêmicas da Superintendência de Campanhas de Saúde Pública do Ministério da Saúde, e com isso eu precisei me desligar porque lá era dedicação exclusiva, então eu não poderia continuar sendo professor e trabalhando no Ministério. Então eu fiquei com o contrato suspenso e trabalhei no Ministério até 1985, quando eu fiz um concurso no Senado Federal para consultor para assuntos de saúde e fui aprovado, lá não era dedicação exclusiva, quando eu passei nesse concurso eu pedi a reintegração na Universidade do Goiás e simultaneamente eu pedi a transferência para a Universidade de Brasília. Então eu cheguei à Universidade de Brasília com tempo parcial professor, eu já tinha feito mestrado nessa época, então eu cheguei professor assistente da Faculdade de Ciências da Saúde do Departamento de Saúde Coletiva, isso em 1985.

M.S.S. – Nesse momento a Faculdade de Medicina Funcionava na Faculdade de Ciências da Saúde.

P.L.T.–  Sim, nesse momento a Faculdade de Medicina ainda não estava separada da Faculdade de Ciências da Saúde, posteriormente sim.

M.S.S.  – Onde você trabalhava na Faculdade de Medicina? Onde era localizado seu local de trabalho?

P.L.T.–  Eu fui chefe do Departamento de Saúde Coletiva e quando foi criada a Faculdade de Medicina eu fui participar de um outro Departamento, chamado Medicina Social e durante um outro tempo eu fui chefe do Departamento também.

M.S.S.  – Então quando o senhor passou a atuar no Núcleo de Medicina Tropical?

P.L.T.– Isso foi só depois, quando eu fui fazer meu Doutorado a convite da Professora Vanise Macedo. Fui fazer o Doutorado e mantive muito relacionamento com a Medicina Tropical, mas ainda era vinculado à Medicina Social.

M.S.S.  – E quais foram os professores mais marcantes no convívio do seu dia-a-dia? E quais os funcionários da Faculdade de Medicina deixaram lembranças?

P.L.T.– Sim, olha são vários, eu tenho até medo de esquecer o nome de alguns, até anotei aqui. Eu queria falar que fui muito bem recebido na Faculdade de Ciências da Saúde pelo professor Maurício Gomes Pereira, que é autor de vários livros na Área de Epidemiologia, trabalhei com ele durante todo esse tempo que eu fiquei na Faculdade de Ciências da Saúde e depois na Faculdade de Medicina, mas ele já estava aposentado e trabalhava como voluntário. Conheci também a professora Vanise Macedo, que era da Medicina Tropical, ela era excelente, ela que me convidou para fazer o Doutorado. O meu orientador lá era o Professor Aloísio Prata, ele já estava trabalhando em MG, então ele vinha aqui muitas vezes para dar aula no Núcleo Medicina Tropical porque ele era muito amigo da professora Vanise, e também orientava alunos de Pós-Graduação. Ele foi meu orientador quando eu fiz o Doutorado em um estudo sobre Malária no Amapá e no Acre, um aderindo a um programa especial e outro não aderindo, eu fiz um estudo sobre a eficácia do novo programa. Mas também tiveram outros professores muito importantes pra mim, o Professor Antônio Márcio Lisboa, que é um professor de pediatria muito bom, criou a Academia de Medicina de Brasília e me convidou para ser um dos sócios fundadores dessa academia. Outra pessoa que foi muito importante pra mim foi o professor Ricardo Fratezzi, ele ainda é voluntário na Faculdade de Medicina, ele foi uma pessoa muito importante, tive muitos contatos com ele e inclusive temos trabalhos publicados juntos. Outra pessoa que eu gostaria de lembrar, outros professores que trabalharam comigo quando foi criada a Faculdade de Medicina no departamento de Medicina Social foi o Professor Davi Duarte Lima, o Professor Flavio Goulart e o Professor Flavio Queiroz. Além deles eu também tive muita amizade, muito trabalho em conjunto com o professor Paulo Melo, que era um neurocirurgião, e que a gente teve muitas discussões a respeito de trabalhos em conjunto. E também os professores mais recentes, que chegaram depois de mim, que são a professora Elisabeth e a professora Maria Regina, que já eram do departamento de Medicina Social, essas pessoas tiveram um significado muito grande na minha vida. Eu participei durante esse período de muitas bancas, não só de mestrado e doutorado, como também muitas bancas para seleção de professores para o Departamento de Medicina Social, entre eles estão esses professores que entraram depois de mim.

M.S.S.  – Em relação aos funcionários que fizeram parte do corpo técnico, o senhor se lembra de algum?

P.L.T.– Eu lembro mais do Secretário do Diretor da Faculdade, do Senhor Gilvan, que é uma pessoa que foi muito importante, e me lembro de algumas pessoas que participaram da Secretaria das Áreas em que haviam alguns técnicos de lá e eu tinha muito contato com eles, eu não estou lembrado do nome agora mas eram técnicos que... que a gente tinha muito contato com eles, ajudavam muito a gente no apoio administrativo que a gente precisava.

M.S.S.  – Como era a relação entre professores e alunos?

P.L.T.– Olha, eu sou muito agradecido à Faculdade de Medicina e à Faculdade de Ciências da Saúde, porque todos os semestres os alunos me homenageavam de alguma forma, ou era professor homenageado na formatura, ou era professor paraninfo (fui paraninfo de várias turmas), ou era professor patrono de algumas turmas. Eu era professor de uma disciplina de epidemiologia, os médicos não são muito ligados a essa área, a epidemiologia é uma disciplina da Saúde Coletiva então eles não eram muito ligados, por isso eu me esforçava muito. Desde a primeira aula gente procurava fazer com que os alunos gostassem de estudar epidemiologia, e isso fez com que a gente se dedicasse bastante a eles, nas 3 aulas que a gente tinha por semestre a gente se dedicava muito, e eles gostavam da nossa dedicação, e alguns deles continuam trabalhando até hoje com epidemiologia e controle. Eu queria me lembrar de alguns deles, o André Siqueira, professor da Fiocruz no Rio de Janeiro, e o Marcos Vinícius, que é professor lá em Manaus, ainda são grandes epidemiologistas, eu tenho muitas alegria de tê-los como companheiros de disciplina, e eles foram meus alunos. Nós nunca tivemos problemas com os alunos, eu pelo menos não me lembro de nenhum problema. Quando tinha greve era em geral mais dos professores do que dos alunos, eu nunca tive problemas com os alunos, talvez porque a gente estava sempre pensando em agradá-los, talvez por conta da nossa disciplina, que não era a favorita dos alunos.

M.S.S.  – Qual o significado de ter trabalhado na Faculdade de Medicina da UnB?

P.L.T.– O significado é de agradecimento, eu aprendi muito dando aula na Faculdade de Medicina, para alunos muito interessados, competentes e dedicados. Ser professor é uma sensação muito boa, de deter conhecimentos que você gostaria que os outros tivessem. Muitos alunos voltam para conversar com a gente muito tempo depois de formados, não só fazendo mestrado ou doutorado, mas eles voltam para saber sobre a publicação de algum trabalho. Então eu acho que esse é o sentimento maior que eu tenho, um prazer muito grande de ter sido professor, e no prestígio que a UnB tem no consenso nacional e internacional, porque nós recebemos muitos profissionais de outros países que vêm prestigiar Brasília, porque ela é muito valorizada e se publica bastante. Na Universidade de Brasília eu tive a oportunidade de ser publicado em mais de 100 revistas nacionais e estrangeiras, com isso a gente passa a ter um prestígio muito grande.

M.S.S.  – Quais são as suas melhores lembranças na Faculdade de Medicina?

P.L.T.– Uma lembrança que eu tenho é que um dia, quando eu estava dando a última aula para uma turma, essa turma bateu palmas pra mim, eu nunca vi isso em uma classe de medicina, e eu fiquei me perguntando “porque será?”, isso foi um fato que ficou marcado na minha cabeça.

M.S.S.  – O que faria diferente se fosse possível voltar no tempo?

P.L.T.– Acho que eu gostaria de ter começado mais cedo a minha vida na Universidade de Brasília. Por um lado né, porque por outro eu trouxe toda essa experiência de medicina integrada no interior, essa experiência do Ministério da Saúde, e a experiência de orientação aos senadores que a gente dava como consultor de saúde do Senado Federal. Acho que essa experiência acumulada foi muito útil para o meu ensino.

M.S.S.  – O que você acha que mudou na Faculdade de Medicina do período em que trabalhou aos dias atuais?

P.L.T.– Acho que foi aquilo que você já comentou, a forma como a gente dava as aulas. O computador trouxe uma grande facilidade de a gente preparar as aulas e aprofundar determinados conceitos, trazendo para os alunos imagens importantes que ficam, que a gente distribui para eles. Com isso eles têm uma quantidade de informação muito grande gerada pelas aulas.

M.S.S.  – É importante ter um museu na Faculdade de Medicina?

P.L.T.– Eu acho que é importante para os professores que já se aposentaram, porque eles se sentem homenageados nessas atividades, e também é importante para a gente verificar a trajetória da Universidade, a trajetória que aconteceu, como por exemplo um grande fato que aconteceu, que foi a separação da Faculdade de Medicina da Faculdade de Ciências da Saúde, foram separadas porém mantiveram um bom relacionamento.

M.S.S.  – Sobre a experiência na Faculdade de Medicina, o que mais gostaria de deixar registrado nesta data?

P.L.T.– Eu gostaria de deixar registrado que um bom professor deve estar disponível para os seus alunos, tanto durante as aulas quanto no período fora das aulas. Você não sabe como é gratificante receber ex-alunos que voltam para receber orientação a respeito de alguma atividade como profissional. Eu gostaria que na Universidade os professores nunca se esquecessem de ter essa abertura para ex-alunos para receber orientação, para discussão, inclusive da própria vida profissional que eles estão levando.

Yolanda Galindo Pacheco

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Nasceu cidade de Cali, na Colômbia, em 1954. Chegou à Brasília em novembro de 1986 e fez concurso público da UnB em 27 de setembro de 1987 para professora de Anatomia Humana na Área de Morfologia da Faculdade de Medicina, cargo que ocupou por 33 anos.  Tem o objetivo de continuar como professora voluntária e pesquisadora.

M.S.S.  – E quando a senhora começou a trabalhar na Faculdade de Medicina?

Y.G.P.  – Eu comecei a trabalhar em mil novecentos... Eu cheguei aqui... Eu fiz concurso público... Eu cheguei aqui e terminei meu doutorado em 1986 e vim para Brasília como professora visitante até setembro... Em setembro de 1987 se abriu concurso público nessa área. Como eu tinha título revalidado quando cheguei aqui, pela Unifesp, que é a Escola Paulista de Medicina, eu fiz concurso público autorizado pelo Ministério do Trabalho. Então isso foi do dia 27 de setembro de 1987 até 13 de julho de 2020.

M.S.S.  – E quando a senhora terminou suas atividades na Faculdade de Medicina?

Y.G.P.  – Não sei dizer se terminou, porque foi um corte abrupto para todo mundo. Porque entrou a pandemia e todos nos retiramos, nos mandaram nos retirar. Eu entrei... Como eu tinha tempo para aposentadoria e tinha problemas com as novas normas para aposentadoria, eu entrei com o pedido, agora foi aprovado muito rapidamente.

M.S.S.  – Oficialmente foi então em julho de 2020.

Y.G.P.  – 13 de julho de 2020 foi publicado no Diário Oficial.

M.S.S.  – Durante esse tempo, onde a senhora trabalhava na Faculdade de Medicina? Foi Sempre na Anatomia?

Y.G.P.  – Sempre na Anatomia. Quando eu cheguei, eu dava aula, cheguei praticamente para trabalhar em Cabeça e Pescoço, porque o currículo antigo tinha anatomia do curso de Elementos, que até hoje existe. Na época os alunos dissecavam os cadáveres junto com os alunos da Medicina. Dava aula na Enfermagem e na Nutrição. Quando se criou a Farmácia, também dei aula na Farmácia. Em 1991, com a morte do professor Barbato, então eu comecei a dar aula na Medicina.

M.S.S. -  Qual a importância de termos um museu na Faculdade de Medicina?

Y.G.P - Eu acho que é importante ter um museu na Faculdade porque hoje o ensino está se modificando. Há uma integração maior e as pessoas gostam de visitar o museu.

M.S.S. - Quais foram os professores mais marcantes no período em que trabalhou na Faculdade de Medicina da UnB?

Y.G.P - Para mim, marcante, foi o professor Antônio Zapalla, sabia muito. E o professor Barbato era um excelente dissecador, sabia muito anatomia. Havia uma turma muito boa que era o professor Tubino e a Professora Layla. Havia também a professora Lúcia Teixeira. Tinham vários professores importantes, mas marcante para mim foi o professor Zapalla.

M.S.S. - Em relação ao corpo técnico da anatomia? Alguém deixou lembranças?

Y.G.P. - Abel sempre foi excelente, sempre trabalhou muito bem. Também sempre foram muito eficientes a Dona Glória e a Glorinha. A Dona Glória veio do Rio de Janeiro, então existiam Glorinha e Dona Glória na área.

M.S.S.  - Como era a relação entre professores e alunos?

Y.G.P. - Eu acho que elas sempre foram boas. Os alunos sempre foram muito respeitosos. E era fácil porque eram poucos alunos, hoje são muitos alunos. Como os alunos eram poucos, se conhecia muito bem cada estudante.  A diferença é muito grande porque antes eram 25 e hoje são 70.

M.S.S.  - Qual significado de ter trabalhado na Faculdade de Medicina da UnB?

Y.G.P. - Olha, para mim foi a minha casa sempre, porque eu realmente me apaixonei pelo trabalho, sempre fui presente. Eu ajudei a construir e tenho um carinho muito grande pelo professor Zapalla, tinha muita gente boa que me orientou, como o professor Barbato e Zapalla. Lá já estavam também professor Armando, Professora Lúcia Teixeira, e Professora Oriana.

M.S.S.  – Eu queria saber se a senhora deseja acrescentar alguma coisa.

Y.G.P.  – O que eu tinha intenção de acrescentar seria a Anatomia Artística, que é foi a minha paixão. Agora, a integração, como eu te falei, era maior porque éramos poucos, a gente era pouco. Agora, quem eu acrescentaria, digamos, neste período, aqui no curso, é o Professor Vicente, excelente professor, uma das pessoas brilhantes que passaram pela Área de Morfologia. E o Professor Paulo Maurício, entre os mais novos, na última parte que inclusive foram professores brilhantes.  Houve momentos muito gostosos, houve momentos assim de uniões, eu já te falei que o número de pessoas que formavam parte da área era reduzido, e você se conhecia.

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